quarta-feira, 29 de junho de 2016

Hitler


Adolf Hitler


Político alemão nascido na Áustria (1889-1945). Liderou o bloco alemão durante a Segunda Guerra Mundial.


Nascido em 1889, na cidade austríaca de Braunau, Alta Áustria, Adolf Hitler era filho de Alois Hitler, funcionário aduaneiro. Sua mãe, Klara Hitler era prima de seu pai e foi até a casa de Alois para cuidar da sua mulher que já se apresentava adoentada e prestes a morrer. Depois de enviuvar-se, Louis decidiu casar-se com Klara. Para isso, teve que pedir permissão à Igreja Católica, que só liberou o casamento depois da gravidez de Klara.
Do matrimônio de Louis e Klara nasceram dois filhos: Adolf e Paula. Durante os primeiros anos de sua juventude, Adolf era conhecido como um rapaz inteligente e mal-humorado. Na adolescência, foi duas vezes reprovado no exame de admissão da Escola de Linz. Nesse mesmo período começou a formular suas primeiras ideias de caráter antissemita, sendo fortemente influenciado pelo professor chamado Leopold Poetsch.

A relação de Hitler com seus pais era bastante ambígua. À mãe, dedicava extremo carinho e dedicação. Com o pai tinha uma relação conflituosa, marcada principalmente pela oposição que Louis fazia ao interesse de Adolf pelas artes e pela arquitetura. Frustrado com o seu insucesso na sequência de seus estudos, Hitler mudou-se para Viena, aos 21 anos, vivendo de pequenos expedientes. Vivendo em condições precárias, mudou-se para Munique quando tinha 25 anos de idade.

Quando a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) teve início, Hitler tentou entrar para o exército austríaco, mas foi rejeitado. Em seguida, ele conseguiu se alistar no exército alemão. Inclusive, devido à sua bravura, ele chegou a ganhar a Cruz de Ferro. Mas, depois do fim da guerra, como tantos outros, ele também não conseguiu arrumar emprego. A Alemanha do pós-guerra passava por uma transformação social e o colapso da monarquia e da economia tornaram o terreno fértil para o crescimento de filosofias extremistas, que iam do comunismo ao nacionalismo. Nessa época, Hitler viajou para Munique, onde se tornou um dos primeiros membros do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – abreviado como Nazista.

A depressão econômica mundial, iniciada em 1929, tornou possível aos nazistas fazer avanços políticos em meio ao descontente eleitorado alemão. Aos poucos, eles passaram a ser reconhecidos como um legítimo partido político, e Hitler, que era um orador brilhante, começou a se destacar e receber vários apoios. Em 1933, o Partido Nazista era tão poderoso que o presidente Paul von Hindenburg (1847-1934) viu-se forçado a apontar Adolf Hitler como chanceler da Alemanha. Imediatamente ele começou a se valer de sua nova posição para derrubar Hindenburg e assumir o controle ditatorial da Alemanha. Ele decidira também rearmar militarmente a Alemanha e reafirmar seus interesses territoriais na Europa.
Em março de 1938, Hitler anexou a Áustria, tornando-a parte da Alemanha. E um ano depois, em março de 1939, suas tropas tomaram o controle da Tchecoslováquia. Embora Inglaterra e França tenham se oposto abertamente à investida alemã, elas não tomaram nenhuma iniciativa para tentar evitar uma guerra. Em 24 de agosto de 1939, a Alemanha assinou um pacto de não-agressão com a União Soviética. E no dia 1 de setembro, desferiu um ataque em grande escala sobre a Polônia. No dia 3 de setembro, Inglaterra e França declararam que o estado de guerra já se constituíra por dois dias. Era o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Os dois primeiros anos de guerra foram marcados por grandes sucessos militares das forças alemãs. A França caiu em questão de semanas em 1940, e, embora a Inglaterra não tenha chegado a ser invadida, seu poder militar na Europa era totalmente nulo. A dominação total de Hitler na Europa durou de 1941 a 1944, quando os aliados anglo-americanos tomaram bases importantes na França e na Itália e os exércitos soviéticos forçaram os alemães a recuar do leste europeu. No início de 1945, os alemães estavam defendendo desesperadamente seu próprio território e, em 7 de maio, a guerra estava acabada.

O espírito de Hitler entre 1939 e 1942 tinha sido o de um invencível otimismo. Seus planos eram para um Império Germânico, ou Reich, na Europa, que durasse mil anos. Para realizar seu sonho de um Reich racialmente puro, o ditador criou uma rede de crematórios para a execução em massa de judeus, ciganos e outros povos considerados por ele "indesejáveis". Entre 1943 e 1945, Hitler foi se tornando uma pessoa cada vez mais deprimida e irritada. Ele passou também a se envolver com crenças ocultas e acreditar que uma forma de magia negra, combinada com misteriosas armas secretas, poderia salvar a Alemanha da derrota. Em 30 de abril, tudo indica que, ao mesmo tempo em que exércitos soviéticos cercavam Berlim, a capital da Alemanha, Hitler, que havia se escondido numa casamata fortificada nos subterrâneos de um prédio de Berlim, assassinou Eva Braun, sua amante de longa data, com quem havia se casado pouco tempo antes, e depois tirou sua própria vida.

Adolf, o artista

Um orador que se contorcia no palco, cercado de bandeiras gigantescas, músicas e enormes batalhões com movimentos coreografados – basta ver os comícios de Hitler para perceber que havia ali algo mais do que simples política. Não é à toa que o arquiteto nazista Albert Speer, a pessoa mais próxima de Hitler durante seus anos no poder, tenha afirmado que, para entender o Führer, era preciso perceber que ele se via, acima de tudo, como um artista. O costume vinha do berço: Hitler estudou piano e canto quando criança e, aos 18 anos, tentou ingressar na Academia de Artes Gráficas de Viena, Áustria.
Foi recusado duas vezes – segundo os críticos, seus trabalhos não tinham vida nem originalidade. Mesmo assim, sobreviveu por seis anos vendendo na rua suas pinturas, que continuou a fazer mesmo nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
Rejeitado pela academia, resolveu aplicar seu estilo na política. Tomou como símbolo do movimento a cruz suástica – um dos sinais mais fortes e antigos da humanidade, utilizado por centenas de etnias ao redor do mundo. Participou do desenho dos uniformes, insígnias, bandeiras e prédios nazistas. Talvez o único assunto que o obcecasse mais que o ódio aos judeus fosse a arquitetura – e nesse ponto seu estilo era muito particular. Considerava as artes modernas “degeneradas” e tentava retomar a grandiosidade que via nos estilos clássicos, com edifícios tão grandiosos quanto as pirâmides egípcias. Seus prédios deveriam demonstrar a superioridade que atribuía ao povo alemão. Um auditório para seus discursos abrigaria 17 vezes mais pessoas que a Basílica de São Pedro, em Roma. Projetou também um Arco do Triunfo 70 metros mais alto que o de Paris. Caberia a esses edifícios manter viva a imagem de Hitler: os materiais usados deveriam, milênios depois, deixar ruínas tão impressionantes quanto as romanas. Nenhuma dessas obras monumentais saiu do papel, o que, para muitos, é um sinal de que a verdadeira arte de Hitler não estava na construção, mas sim na destruição.

GOVERNO E CONTROLE NAZISTA

Adolf Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha em 30 de janeiro de 1933, colocando um fim na democracia alemã. Guiados por idéias racistas e autoritárias, os nazistas aboliram direitos básicos e inventaram uma comunidade populacional de origem alemã, o Volk [povo, que deveria ter o poder]. Teoricamente, aquela comunidade uniria todas as classes e regiões da Alemanha sob o comando de Hitler. Na prática, o Terceiro Reich era um estado policial, onde os indivíduos eram sujeitos a detenções e prisões arbitrárias.
Nos primeiros meses como chanceler, Hitler deu início a uma política de “sincronização”, obrigando organizações, partidos políticos e governos estaduais a se alinharem aos objetivos nazistas e colocando-os sob sua liderança. A cultura, a economia, a educação e as leis passaram a ter um maior controle nazista. Os sindicatos foram abolidos e trabalhadores, funcionários e empregadores foram inseridos em organizações nazistas. Em meados de julho de 1933, o Partido Nazista era o único partido político permitido na Alemanha, e o Reichstag(Parlamento Alemão) existia apenas para endossar a ditadura de Hitler. As determinações do Führer [governante] tornaram-se a base da política governamental.
A indicação de membros do Partido Nazista para cargos públicos aumentou a autoridade de Hitler sobre os funcionários do governo. De acordo com o princípio de liderança do Partido, a autoridade vinha de cima e a obediência absoluta aos superiores era esperada em todos os níveis da hierarquia nazista. Hitler era a maior autoridade do Terceiro Reich.
27 DE FEVEREIRO DE 1933
PRÉDIO DO 
REICHSTAG (PARLAMENTO ALEMÃO) DESTRUÍDO POR INCÊNDIO
Após declarar que os comunistas haviam incendiado o prédio doReichstag (parlamento alemão) em Berlim, Adolf Hitler usou o incidente para assumir poderes extraordinários na Alemanha. Hitler convenceu o então presidente alemão, Paul von Hindenburg, a declarar estado de emergência, e os direitos individuais assegurados pela constituição foram abolidos.
5 DE MARÇO DE 1933
NAZISTAS NÃO CONSEGUEM ELEGER UMA MAIORIA NAS ELEIÇÕES DO REICHSTAG (PARLAMENTO ALEMÃO)
Mesmo com o estado de emergência declarado em fevereiro de 1933 e os poderes extraordinários então assumidos por Adolf Hitler, os nazistas não conseguiram garantir a maioria necessária durante as eleições parlamentares, recebendo apenas 45 por cento dos votos. Mais tarde, em março de 1933, Hitler apresentou um projeto que daria a seu governo o poder de decretar leis sem precisar submetê-las à votação no parlamento alemão. O projeto foi aprovado, em parte devido à prisão de muitos oponentes comunistas e socialistas antes de sua votação.
23 DE MARÇO DE 1933
REICHSTAG (PARLAMENTO ALEMÃO) CONCEDE PODERES LEGISLATIVOS A HITLER.
Depois que o Partido Nazista não conseguiu eleger um número suficiente de representantes para conquistar a maioria parlamentar, Adolf Hitler apresentou um projeto-de-lei que permitia a seu governo legislar sem necessidade de se submeter ao poder legislativo. Os nazistas, os conservadores e o Partido Católico de Centro apoiaram a chamada “Lei de Autorização”, a qual concedeu ao governo de Hitler o poder para decretar leis sem necessidade de votação das mesmas pelos parlamentares, por um período de quatro anos. Oponentes comunistas e muitos socialistas foram presos antes da votação. Por fim, somente os socialistas remanescentes contestaram a medida, mas o projeto de lei foi aprovado. Logo em seguida, Hitler baniu todos os partidos políticos da Alemanha, com exceção do Partido Nazista.
30 DE JUNHO DE 1934
NOITE DAS FACAS LONGAS
Naquela noite, foi realizado um expurgo na liderança das Tropas de Choque (SA), e entre os outras pessoas que supostamente opunham-se ao regime de Adolf Hitler. O evento ficou conhecido como a “Noite das Facas Longas”. Mais de 80 líderes das SA foram detidos e mortos a tiros, sem julgamento. Hitler disse que o acontecido era uma resposta a uma conspiração por parte de alguns membros das SA para tentar derrubar seu governo. As SA, sob liderança de Ernst Roehm, buscava tomar o lugar do exército alemão. A remoção de Roehm garantiu a Hitler um apoio ainda maior do exército.
2 DE AGOSTO DE 1934
O PRESIDENTE VON HINDENBURG MORRE AOS 87 ANOS
O presidente alemão Paul von Hindenburg morreu aos 87 anos de idade, e assim Adolf Hitler assumiu os poderes da presidência. O exército fez um juramento de lealdade pessoal a Hitler. Sua ditadura baseava-se em suas posições de Presidente do Reich (chefe de estado), Chanceler do Reich (chefe de governo) e Führer (chefe do Partido Nazista). Seu título oficial passou a ser “Führer e Chanceler do Reich”.

Passos para a tragédia

A trajetória de Hitler, da infância à destruição da Europa
1889 - Adolf Hitler nasce na pequena cidade de Braunau am Inn, na Áustria. Seu fraco desempenho escolar o faz abandonar o colégio com 16 anos e seguir pouco depois para Viena com o intuito de estudar pintura
1914 - O início da Primeira Guerra Mundial o impele a se alistar na infantaria alemã. Mesmo condecorado duas vezes por bravura, é tido como inapto para promoção por não demonstrar liderança. Acaba no hospital depois de sofrer um ataque com gás
1918 - Ainda no Exército, recebe a missão de vigiar grupos extremistas em Munique e acaba se tornando o 55º integrante de um deles. Seus discursos fazem com que, cinco anos depois, o movimento passe a reunir 55 mil membros
1923 - Proclama sem sucesso uma revolução contra o governo e acaba na prisão, onde escreve seu livro Minha Luta. Cumpre apenas dez meses de reclusão e reorganiza o partido, que nove anos depois se torna o maior do Parlamento
1932 - Hitler concorre à presidência, é derrotado por Paul von Hindemburg e começa a perder força política. Mas, dez meses depois, manobras nos bastidores forçam Hindemburg a dar a ele o controle do governo, no cargo de chanceler
1933 - Um atentado incendeia o prédio do Parlamento. Hitler aproveita a oportunidade para suspender direitos civis e prender inimigos políticos. Nos meses seguintes, ganha o direito de promulgar leis e fecha todos os partidos e organizações não-nazistas
1934 - Hindemburg morre, Hitler assume também o cargo de presidente e consolida de vez seu poder. Aproveita o impasse nas relações internacionais para armar seu Exército, reocupar territórios perdidos durante a Primeira Guerra Mundial e anexar a Áustria
1939 - Depois de invadir a Tchecoslováquia, Hitler avança sobre a Polônia e dá início à Segunda Guerra Mundial. Menos de dez meses depois, França, Holanda, Noruega, Dinamarca, Bélgica e Luxemburgo já estão sob domínio alemão
1941 - Hitler ordena o assassinato em massa de judeus e invade a Rússia. O fracasso desse ataque abre espaço para a contra-ofensiva soviética e para que britânicos, americanos e seus aliados comecem a retomar os territórios ocupados
1945 - Mesmo acuado, Hitler se recusa a colocar seu Exército na defensiva, tenta ataques desesperados e perde cada vez mais territórios. Com os russos nas redondezas de Berlim, suicida-se e ordena que seu corpo seja incinerado

O Sonho de Hitler era ser artista 
O ditador teve uma adolescência muito sofrida. Em setembro de 1900, aos 11 anos, ingressou na Realschule de Linz, uma escola secundária que formava rapazes para a carreira comercial ou técnica. “De modo algum desejava me tornar um funcionário público. Um dia, tive certeza de que seria pintor, um artista... Meu pai ficou perplexo, mas logo se recuperou... ‘Artista, não, jamais enquanto eu viver!’”, assim escreveu Hitler em seu livro Mein kampf. Aos 16 anos, após a morte do pai, Alois Hitler, Adolf se mudou para Linz com sua mãe, irmã e tia e consagrou “toda a vida à arte”. Ele fazia esboços, pintava, projetava museus, uma ponte sobre o rio Danúbio, teatros e até mesmo a completa reconstrução de Linz. Fez também, por um tempo, algumas aulas de piano. Além disso, frequentava concertos, teatros, um clube de música, outro de livro e um museu de cera. Como teria sido a história da Alemanha se Hitlertivesse obtido sucesso em seu sonho? 


Hitler escrevia poemas 
Aos 15 anos, 
Adolf passava a maior parte do tempo desenhando, pintando e lendo. Nessa época, morava numa casa de família em Steyr, na Áustria, onde ficava a escola que então frequentava. Escreveu também, com essa idade, um poema um tanto quanto incoerente. Os símbolos (-) são palavras indecifráveis:As pessoas ali se sentam numa casa ventilada
Enchendo-se de cerveja e vinho
Comendo e bebendo em êxtase
(-) então de quatro.
Ali escalam os altos picos das montanhas
(-) com as faces cheias de orgulho
E caem como acrobatas em cambalhotas
E não podem se equilibrar
Então, tristes, voltam para casa
E em calma esquecem o tempo
Então ele vê (-), sua esposa, pobre homem,
Que lhe cura as feridas com uma boa sova. 

O poema estava ilustrado com o desenho de uma mulher robusta surrando o marido.
E a fase poeta de Hitler não acabou na adolescência. Durante a guerra de trincheiras, em 1915, o ditador escreveu:
Frequentemente sigo em noites frias
Ao Carvalho de Odim no calmo bosque
Tecendo com negra magia uma união
A Lua traça runas com seu feitiço
E sua mágica fórmula humilha
Os que se enchem de orgulho à luz do dia!
Forjam suas espadas em fulgurante aço – mas, em vez de lutar,
Congelam como estalagmites
Assim se distinguem as almas – as falsas das verdadeiras
Penetro um ninho de palavras
E distribuo dádivas aos bons e aos justos
E minhas mágicas palavras lhe trazem bênçãos e riquezas! 

O primeiro amor de Hitler foi uma judia 
Muitos sabem que Adolf Hitler tinha uma relação muito forte com sua mãe. Mas o primeiro amor dele, de fato, foi Stefanie (ou Stephanie) Isak, uma jovem loira e alta que vivia no mesmo subúrbio de Linz. O sobrenome dela indicava que fosse judia, mas isso não o incomodava.

O menino apaixonado de 17 anos dedicou a ela uma série de poemas românticos e, na companhia de seu melhor amigo, Gustl Kubizek, ficava todos os dias esperando Stefanie passar na rua, que infelizmente estava sempre sob o olhar atento da mãe.

Hitler confessou a Gustl que, para fugir com ela, seria capaz de sequestrá-la. E como a moça o ignorava, Adolf planejou suicídio nas águas do rio Danúbio, levando-a consigo. Stefanie, que possivelmente nunca conversou com Hitler, acabou se casando com um soldado, o tenente Jasten. 


Videos:






Abaixo episódios da minissérie Hitler: A Ascensão  do mal




Filme: A Queda


Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) trabalhava como secretária de Adolf Hitler (Bruno Ganz) durante a 2ª Guerra Mundial. Ela narra os últimos dias do líder alemão, que estava confinado em um quarto de segurança máxima

domingo, 29 de maio de 2016

Dália Negra


DÁLIA NEGRA

Elizabeth Short era bela moça que almejava o sucesso e alcançou a fama de uma forma bem fúnebre. Conheça uma das histórias mais misteriosas de Hollywood. Um eterno caso sem solução, o Caso Dália Negra.

QUEM ERA ELIZABETH SHORT?

            Elizabeth Short nasceu em Hyde Park, subúrbio de Boston, a 29 de julho de 1924 e vivia  com sua mãe em Madford, Massachusetts. Filha de Cleo e Phoebe Short, possuía mais quatro irmãs. Seu pai, Cleo, abandou a família em 1930, e então a Sra. Phoebe assumiu sozinha os encargos de criar as cinco filhas. Em 1942, Elizabeth Short era uma jovem muito atraente e estava cursando o segundo ano do ensino médio quando resolveu abandonar tudo e seguir para Miami, onde conseguiu um emprego de garçonete. Em Miami conheceu o major aviador Matt Gordon Jr., com quem passou a se corresponder com frequência.

            Em janeiro de 1943 viajou para Santa Barbara, California, onde conseguiu um emprego no Posto de reembolsável da Base Militar de Camp Cook. Sua permanência aí também foi curta, pois descobriu que seu pai vivia em Villejo, localidade próxima onde ela estava. Numa aproximação com o pai, acabou indo morar com ele, mas como a convivência entre ambos não foi satisfatória, Beth retornou para Santa Barbara em setembro de 1943.

            A jovem admirava a farda militar e gostava de frequentar os bares e clubes noturnos, onde ficava rodeada de militares. A 23 de setembro, logo ao retornar a Santa Barbara, foi presa por consumir bebida alcoólica; ela tinha apenas 19 anos. Em acordo com as autoridades, foi liberada para retornar à casa de sua mãe em Madford.

            Durante todo o período da guerra continuou escrevendo para seu namorado, o major Gordon, e, em abril de 1945, ele a propôs casamento. Beth estava pronta para ser a esposa de um oficial e levar a vida que ela planejara para si, por isso aceitou o pedido.

            Esta estória poderia parar por aqui com um “...e viveram felizes para sempre...”, contudo quando o major Gordon retornava para casa no inverno de 1945 sofreu um acidente na Índia e morreu.

            Desorientada saiu de casa novamente para a Florida, arranjando um emprego, também de garçonete, em Miami Beach. Novamente, desiludida retornou a Madford em fevereiro de 1946. Desta vez foi trabalhar como caixa num cinema. Este trabalho deve ter acendido suas esperanças de sucesso, pois era uma jovem muito bonita e gozava de certa liberdade, não seria difícil imaginar uma carreira promissora como atriz em Hollywood. Assim, partiu em abril daquele ano para a California com destino ao glamour de Hollywood.

            Em Hollywood passou por várias pensões e hotéis, dividindo quartos com diversas outras garotas durante todo o restante do ano de 1946.

            O sonho de estrear no cinema, ostentando um nome artístico famoso seria realizado, mas não em vida. Até então ela era apenas Elizabeth Short, vista com vida pela última vez a 9 de janeiro de 1947 ao sair do bar do Hotel Biltmore.



O CASO DÁLIA NEGRA

            O caso do assassinato da Dália Negra tomou vulto e notoriedade jamais superados no século XX. É verdade que as circunstâncias e componentes do caso são traumáticos: assassinato de uma jovem tão bonita, a crueldade aplicada tanto na morte quanto na mutilação posterior do corpo, a falta de pistas do criminoso, etc. Contudo, podemos apontar como um dos fatores determinantes para a notoriedade do caso, o grande envolvimento da imprensa.

            De fato, a rápida chegada da imprensa ao local, com possibilidades de fotografar o cadáver antes que a polícia fizesse seu isolamento e a fácil aceitação do LAPD (Departamento de Polícia de Los Angeles) da contribuição da imprensa no caso, manipulando evidências (e noticiando-as também), permitiu a divulgação do caso numa escala jamais vista. Exemplo disso é o fato de que a tiragem do jornal Los Angeles Examiner no dia 16 de janeiro foi a maior deste jornal, somente superada pela edição especial do dia da Vitória.

            Outra contribuição da imprensa para o caso que definitivamente o tornou uma notoriedade foi o nome dado à vítima, Dália Negra. Elizabeth Short em vida nunca teve um nome artístico, porém o nome que a imprensa lhe deu jamais será esquecido. Este nome provavelmente foi inspirado num romance de Raymond Chandler,The Blue Dahlia, que retratava uma estória de assassinato e mistério; e fora filmado em Los Angeles no verão de 1946.

            A “contribuição” da imprensa aparentemente prejudicou muito o curso da investigação, haja visto que logo após ser noticiado várias pessoas se entregaram à polícia de Los Angeles alegando serem os verdadeiros assassinos da Dália Negra, confundindo o curso da investigação e gastando muitas horas-homem de cansativas investigações. Levando-se em conta que mais de 50 pessoas assumiram a autoria do crime, o trabalho dos investigadores quase se inverteu, deixando de procurar provas que incriminassem determinado suspeito para procurar provas que inocentassem o suposto assassino réu confesso!


O ASSASSINO

            Muitos anos após, e estando quase esquecido o crime, um detetive aposentado do LAPD, chamado Steve Hodel lançou novas luzes sobre o caso. Em 1999, após a morte de seu pai George Hodel, encontrou um intrigante álbum de família composto por fotos de pessoas que aparentemente significavam muito para ele e que guardara com muito cuidado durante várias décadas. As pessoas que apareciam nas poucas fotos eram duas de suas ex-esposas, alguns de seus filhos, a nora (do primeiro casamento de Steve) e, curiosamente, duas fotos de Elizabeth Short, aparentemente pouco tempo antes do assassinato. Em uma destas fotos, Elizabeth Short aparentemente estava nua ( a foto fora recortada para ficar do mesmo tamanho das demais e mostrava apenas seu rosto e parte dos ombros nus).

            Desde este momento Steve iniciou um intenso trabalho de investigação sobre seu pai, George Hodel, o qual praticamente desconhecia, pois o estilo de vida e a postura distante da família que assumira durante toda a sua vida formava uma verdadeira muralha em volta de seu caráter e de seus atos durante toda a sua vida. Suas descobertas foram assustadoras, revelando George Hodel como um homem excêntrico, de extrema inteligência e capaz de realizar atos dos mais brutais já imaginados. As diversas ligações de George Hodel com o caso (embora circunstanciais) parecem não deixar dúvidas de que ele foi realmente o autor deste bárbaro crime, além de muitos outros. No entanto viveu livre e confortavelmente até os últimos de seus dias com mais de 91 anos.


GEORGE HODEL

            Desvendar George Hodel foi uma tarefa que demandou muitos anos de investigação de seu filho Steve Hodel. O resultado de suas pesquisas foram inicialmente divulgadas no seu livro The Black Dahlia Avenger, lançado em 2003 nos Estados Unidos.

            George Hill Hodel Jr., filho de imigrantes russos, nasceu em Los Angeles em 1907. Seus pais se preocuparam muito com sua formação intelectual e educação formal. Aos 9 anos de idade já era um exímio pianista e fora escolhido para dar um recital para a comissão belga que fora aos Estados Unidos para as celebrações aos franceses. Seu QI excepcional, 186, situava-se um ponto acima do de Albert Einstein, o que lhe rendeu vários anos no programa de pesquisa de QI do Dr. Lewis Terman.

            Em 1923, com apenas 15 anos, ingressou no California Institute of Technology em Pasadena. Porém, sua prodigiosa carreira como engenheiro químico foi interrompida pela sua expulsão resultante de sua tendência para o lado obscuro da vida (as razões são incertas, informa-se que foi por motivo de ter engravidado a esposa de um membro da faculdade ou por jogar poker, jogo proibido).

            Trabalhou inicialmente como motorista de taxi e em outros pequenos empregos. Trabalhou também como jornalista, porém em 1928 ingressou no programa médico da University of California em Berkeley, onde se graduou em 1932. Por volta desta época, estava casado com Emilia, sua primeira esposa, e já tinha um filho chamado Duncan, quando então conheceu Dorothy Anthony. Seu poder persuasivo convenceu as duas mulheres em reunir todos numa única família. Dorothy deu à luz uma filha, Tamar.

            Por volta de 1939, estava trabalhando no L. A. Country Health Department, já desvencilhado de Emilia e Dorothy, passou a viver com outra Dorothy, Dorothy Huston, a quem chamava de Dorero para que seus amigos não confundissem com sua esposa anterior. Desta união nasceu Steve e outros dois irmãos. Futuramente se casaria com June, sua última esposa.


            Em 1945 foi admitido na UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration), indo trabalhar, no início de 1946, na China. Lá, embora fosse civil, possuía o posto honorário e as honras de general de três estrelas. Retornou a Los Angeles em setembro de 1946.

            Algumas de suas amizadas demonstram bem o seu estilo de vida. Sua grande vocação para fotografia o aproximou do famoso artista surrealista Man Ray, o qual mantinha contato muito próximo, com prolongadas reuniões noturnas regadas a whisky e a entorpecentes, como cocaína. O próprio George Hodel pousou para várias fotos de Man Ray.

            Em 1949, apenas dois anos após o assassinato da Dália Negra, George Hodel foi preso por estuprar sua filha, Tamar, de apenas 14 anos.

            Tamar contou à polícia que George a drogou e a obrigou a fazer sexo oral com Fred Sexton que, em seguida, copulou com ela; tudo na presença de George e mais duas mulheres. Da mesma forma, após Sexton, George Hodel também a obrigou a fazer sexo oral e copular com ele. Ainda contou que, na sequência, uma das mulheres fez sexo oral com a garota. Tamar também contou que meses antes fizera um aborto patrocinado por seu pai George Hodel.

            Durante o julgamento, Fred Sexton admitiu ter feito sexo com Tamar, também uma das mulheres que os acompanhavam admitiu ter feito sexo oral na garota.

            O processo que fora um grande escândalo em Hollywood, e figurava como uma condenação certa por incesto, sofreu um grande revés. George Hodel ao testemunhar convenceu a todos de que era apenas uma sessão de hipnose onde nada de mais acontecera; que Tamar era uma mentirosa compulsiva e seu lugar não era perante o júri e sim numa clínica psiquiátrica; além de afirmar que as testemunhas que admitiram o caso o fizeram apenas porque lhes haviam oferecido um acordo para prendê-lo (o acordo com a justiça realmente existia, embora fosse para confessarem e não mentir). O final foi a absolvição de Hodel e a completa desmoralização de Tamar.

            Décadas depois, a filha de Fred Sexton afirmou a Steve Hodel que sabia que Tamar não estava mentindo pois seu pai a violentara diversas vezes entre os 8 e 14 anos de idade.

DÁLIA NEGRA NO CINEMA
            Finalmente,  depois de mais de cinco décadas de sua morte, Elizabeth Short realizou seu sonho, estreando nas telas de Hollywood com um filme que carrega seu “nome artístico” de grande força: Black Dahlia.
            O romance não procurou retratar a vida de Elizabeth Short e sim as consequências (principalmente psicológicas) do seu assassinato para a vida de Los Angeles, mas especificamente de Hollywood.
            Atualmente já se sabe o bastante sobre a vida de Elizabeth Short e de George Hodel (mais aceito como possível assassino), sendo assim uma nova produção na “grande tela” mais baseada na história real certamente poderá causar maior impacto que o atual filme baseado no romance de James Ellroy.


Causa da Morte:
A causa de sua morte foi "hemorragia e choque de concussão cerebral e lacerações no rosto, devido a vários golpes com um instrumento contundente (assassinato). 
Depois que ela morreu, seu corpo foi cortado ao meio pela cintura, com um instrumento afiado semelhante à um bisturi cirúrgico, e com tal precisão, que aparentemente o trabalho teria sido feito por um médico com formação profissional.


Sepultamento:

Mountain View Cemetery.
5000 Piedmont Ave -Oakland -Alameda County.
Quadra 66 - Sepultura 798. 
California - USA. 




A Dália Negra, AHS: Murder House
A personagem Elizabeth Short (Mena Suvari), conhecida como The Black Dahlia, faz uma participação especial na primeira temporada de AHS. A personagem morre logo após entrar na casa. Short, na vida real, foi uma aspirante a atriz que mudou para Los Angeles e encontrou seu trágico fim em 1947. Seu assassinato continua sem solução, e inspirou décadas de filmes, livros e conspirações, incluindo o longa Dália Negra, de Brian De Palma.

Veja a seguir um vídeo sobre o caso:


sábado, 2 de abril de 2016

Massacre de Columbine

Massacre de Columbine

O massacre de Columbine aconteceu em 20 de Abril de 1999 no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos, no Instituto Columbine, onde os estudantes Eric Harris (apelido ReB), de 18 anos, e Dylan Klebold (apelido VoDkA), de 17 anos, atiraram em vários colegas e professores.Eric Harris e Dylan Klebold eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta. Moravam em casas confortáveis. O pai de Klebold é geofísico, e a mãe, especialista em crianças deficientes.
Harris e Klebold deixaram uma nota, encontrada perto dos corpos: "Não culpem mais ninguém por nossos atos. É assim que queremos partir". Faltavam apenas 17 dias para o fim do ano letivo. Com 1965 alunos, Columbine é tão boa que muitas famílias se mudaram para Littleton, perto de Denver, com o objetivo de matricular os filhos na escola. Oitenta e dois por cento de seus alunos são aceitos em universidades (nos Estados Unidos não há vestibular, o que conta é o desempenho do aluno no segundo grau). Columbine também se orgulhava de não registrar casos de violência. O policial de plantão se limitava a multar alunos que estacionavam os carros nas vagas destinadas a professores. Não há, ( ou melhor não havia ) como nas escolas de Nova York, Los Angeles e Chicago, detectores de metais na entrada. Na festa de formatura, os alunos costumavam aceitar o pedido dos pais para vedar bebidas alcoólicas. Columbine era famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos times de futebol americano, basebol e basquete. Foi esse o estopim da tragédia.

Eles não eram góticos ou solitários.


Os dois adolescentes que mataram 13 pessoas e a si mesmos no suburbano colégio Columbine de Denver, há 10 anos na próxima semana, não faziam parte da “Máfia do Sobretudo”, não eram jogadores de videogame desafeiçoados que vestiam casacos de caubói. O massacre provocou um debate nacional sobre intimidação, mas agora foi mostrado que Eric Harris e Dylan Klebold não foram intimidados -na verdade, eles se gabavam nos diários de intimidarem calouros e “viados”.

O ataque deles colocou as escolas em alerta às “listas de inimigos” feitas por estudantes perturbados, mas os inimigos na lista deles tinham se formado em Columbine um ano antes. Diferente dos primeiros relatos, Harris e Klebold não estavam tomando antidepressivos e não visaram atletas, negros ou cristãos, diz agora a polícia, citando os diários dos assassinos e relatos das testemunhas. Aquela história sobre uma estudante sendo baleada na cabeça após dizer que acreditava em Deus? Nunca aconteceu, diz agora o FBI.

Uma década após Harris e Klebold terem transformado Columbine em sinônimo de raiva, novas informações -incluindo vários livros que analisam a tragédia por meio de diários, e-mails, agendas, fitas de vídeo, relatórios policiais e entrevistas com testemunhas, amigos e sobreviventes- indicam que grande parte do que foi dito ao público sobre o massacre está errado.Na verdade, o ataque suicida da dupla foi planejado como um grande atentado terrorista a bomba -apesar de mal executado- que rapidamente se transformou em um tiroteio de 49 minutos quando as bombas fabricadas por Harris falharam.

“A fiação das bombas que ele fez era tão ruim que, aparentemente, nunca estiveram nem próximas de funcionar”, disse Dave Cullen, autor de “Columbine”, um novo relato sobre o ataque.
Então, quem eles esperavam matar?

Todo mundo -inclusive os amigos.


O que restou, após a remoção de uma década de mitos, talvez seja mais reconfortante do que a narrativa “bons garotos intimidados até retaliarem” -ou talvez não.

É um retrato de Harris e Klebold como uma espécie de dupla criminosa de “A Sangue Frio” -uma dupla profundamente perturbada, suicida, que por mais de um ano incitava um ao outro a realizar um atentado terrorista ao estilo de Oklahoma, uma fantasia de vingança extravagante, apolítica, contra anos de desdém, desfeitas e crueldades, reais e imaginadas.

Ao longo do caminho, eles economizaram dinheiro de empregos após a escola, frequentaram aulas de Advanced Placement (cursos de nível universitário), reuniram um pequeno arsenal e enganaram todos -amigos, pais, professores, psicólogos, policiais e juízes.

“Não eram garotos comuns que foram importunados até retaliarem”, escreveu o psicólogo Peter Langman em seu novo livro, “Why Kids Kill: Inside the Minds of School Shooters”. “Não eram garotos comuns que jogaram videogame demais. Não eram garotos comuns que apenas queriam ser famosos. Eles simplesmente ‘não eram garotos comuns’. Eram garotos com problemas psicológicos sérios.”

Enganando os adultos

Harris, que concebeu os ataques, era mais do que apenas perturbado. Ele era, dizem agora os psicólogos, um psicopata predador, de sangue frio -um mentiroso inteligente e charmoso com “um ridiculamente grande complexo de superioridade, repulsa por autoridade e uma enorme necessidade por controle”, como escreveu Cullen.

Harris, um aluno do último ano, lia vorazmente e conseguia boas notas quando queria, agradando seus professores com uma prosa deslumbrante -e então escrevendo em seu diário sobre matar milhares.

“Eu me referia a ele como o Eddie Haskel do colégio Columbine”, disse o diretor Frank DeAngelis, se referindo ao adolescente enganadoramente educado da série dos anos 50 e 60 “Leave it to Beaver”. “Ele era o tipo de garoto que, quando estava diante dos adultos, dizia o que você queria ouvir.” Quando não estava, ele misturava napalm na cozinha.

Segundo Cullen, um dos últimos textos escritos no diário de Harris dizia: “Eu odeio vocês por me deixarem de fora de tantas coisas divertidas. E não diga, ‘Ora, é culpa sua’, porque não é, vocês tinham meu telefone, e eu pedi e tudo mais, mas não. Não, não, não deixem aquele estranho do Eric vir junto”.

Enquanto caminhava para a escola na manhã de 20 de abril, Harris vestia uma camiseta que dizia “Seleção Natural”.

Klebold, por outro lado, era ansioso e apaixonado, resumindo sua vida a certa altura em seu diário como “a existência mais miserável na história do tempo”, como notou Langman.

Harris desenhava suásticas em seu diário; Klebold desenhava corações.

Com base no conteúdo de seus diários, o contraste entre os dois era grande.

Harris parecia se sentir superior a todos -ele escreveu certa vez: “Eu me sinto como Deus e gostaria que fosse, para que todos estivessem OFICIALMENTE abaixo de mim”- enquanto Klebold era um depressivo suicida que ficava cada vez mais furioso. “Eu sou um deus, um deus da tristeza”, ele escreveu em setembro de 1997, por volta de seu 16º aniversário.

Klebold também era paranoico. “Eu sempre fui odiado, por todos e tudo”, ele escreveu.

No dia dos ataques, sua camiseta dizia: “Ira”.

Surge um perfil dos atiradores

Columbine não foi a primeira escola onde ocorreu um massacre. Mas na época foi o pior e o primeiro a se desenrolar em grande parte ao vivo pela televisão.
O Serviço Secreto dos Estados Unidos e o Departamento de Educação americano logo começaram a estudar os atiradores em escolas. Em 2002, os pesquisadores apresentaram seus primeiros resultados: os atiradores em escolas, eles disseram, não apresentavam um perfil definido, mas a maioria deles era depressivo e se sentia perseguido.
A socióloga de Princeton, Katherine Newman, co-autora do livro de 2004, “Rampage: The Social Roots of School Shootings”, disse que jovens como Harris e Klebold não eram solitários -eles apenas não eram aceitos pelos garotos que importavam. “Obter atenção ao se tornar notório é melhor do que ser um fracasso.”
O Serviço Secreto descobriu que os atiradores geralmente contavam seus planos para outros garotos.
”Outros estudantes frequentemente até mesmo os incitavam”, disse Newman, que liderou um estudo encomendado pelo Congresso sobre os tiroteios em escolas. “Eles então assumem esse compromisso. Não é um surto repentino.”
Langman, cujo livro traça o perfil de 10 atiradores, incluindo Harris e Klebold, descobriu que nove sofriam de depressão e pensamentos suicidas, uma combinação “potencialmente perigosa”, ele disse. “É difícil impedir um assassinato quando os assassinos não se importam em viver ou morrer. É como tentar deter um homem-bomba.”
Na época, Columbine se tornou uma espécie de teste de Rorschach nacional gigante. Os observadores viam sua gênese em quase tudo: pais frouxos, leis frouxas de armas, educação progressista, cultura escolar repressiva, videogames violentos, medicamentos antidepressivos e rock and roll, para começar.
Muitos dos mitos de Columbine surgiram antes do término do massacre, à medida que rumores, mal-entendidos e pensamentos desejosos rodopiavam em uma câmera de eco entre as testemunhas, sobreviventes, autoridades e a imprensa.
A polícia contribuiu com a confusão ao falar aos jornalistas antes de conhecer os fatos -uma coletiva de imprensa convocada às pressas pelo xerife do condado de Jefferson naquela tarde produziu a primeira manchete: “25 mortos no Colorado”.
Algumas inverdades levaram horas para serem corrigidas, mas outras levaram semanas ou meses -às vezes anos- enquanto as autoridades promoviam relutantemente as correções.
O ex-repórter do “Rocky Mountain News”, Jeff Kass, autor de um novo livro, “Columbine: A True Crime Story”, disse que a polícia fez um jogo de charadas.
Em um caso, as autoridades do condado levaram cinco anos apenas para reconhecer que tinham se reunido em segredo após os ataques para discutir um depoimento juramentado de 1998 para um mandado de busca na casa de Harris -resultado de uma queixa feita contra ele pela mãe de um ex-amigo. Harris ameaçou o filho dela em seu site na internet e se gabava de que vinha fabricando bombas.
A polícia já tinha encontrado uma pequena bomba igual à descrita por Harris perto de sua casa -mas os investigadores nunca encaminharam a queixa a um juiz.
Ela também aparentemente não sabia que Harris e Klebold estavam sob condicional após terem sido presos em janeiro de 1998 por terem arrombado uma van e roubado equipamento eletrônico.
A busca finalmente ocorreu, mas apenas após o massacre.

O que restou, após a remoção de uma década de mitos, talvez seja mais reconfortante do que a narrativa “bons garotos intimidados até retaliarem” -ou talvez não.

É um retrato de Harris e Klebold como uma espécie de dupla criminosa de “A Sangue Frio” -uma dupla profundamente perturbada, suicida, que por mais de um ano incitava um ao outro a realizar um atentado terrorista ao estilo de Oklahoma, uma fantasia de vingança extravagante, apolítica, contra anos de desdém, desfeitas e crueldades, reais e imaginadas.
Ao longo do caminho, eles economizaram dinheiro de empregos após a escola,
frequentaram aulas de Advanced Placement (cursos de nível universitário), reuniram um pequeno arsenal e enganaram todos -amigos, pais, professores, psicólogos, policiais e juízes.
“Não eram garotos comuns que foram importunados até retaliarem”, escreveu o psicólogo Peter Langman em seu novo livro, “Why Kids Kill: Inside the Minds of School Shooters”. “Não eram garotos comuns que jogaram videogame demais. Não eram garotos comuns que apenas queriam ser famosos. Eles simplesmente ‘não eram garotos comuns’. Eram garotos com problemas psicológicos sérios.”

Planejamento do ataque
Eric Harris e Dylan Klebold conseguiram o seu arsenal comprando pela internet - duas armas de caça, uma pistola semi automática e uma rifle de assalto de 9mm, acharam também na Internet a receita para fabricar as bombas. Um vizinho viu os dois, na segunda-feira, véspera do ataque, partindo garrafas com um taco de basebol. Os cacos seriam usados como estilhaços nas bombas que ambos fabricavam, mas o vizinho não desconfiou de nada. Harris escreveu num diário os planos do ataque à escola. Um diagrama mostra como as armas seriam escondidas sob as longas capas de couro preto. Num exemplar do livro de formatura do colégio, Harris escreveu sobre as fotos, quem ia morrer e quem seria poupado: "Morto", "Morrendo" e "Salvo".
Dias após o ataque a policia suspeitava que a dupla teria tido ajuda de outros cúmplices, pois os investigadores duvidavam que a dupla pudesse carregar as mais de 30 bombas que eles fabricaram para dentro do colégio. As suspeitas caíram sobre outros membros do grupo intitulado Máfia da Capa Preta.

Entre a invasão da escola, pouco após as 11 horas da manhã, e a descoberta dos corpos pela polícia, às 16 horas, os cúmplices podem ter deixado o prédio misturados à multidão que conseguiu escapar. A equipe da SWAT ordenava que todos levassem as mãos à cabeça, mas não tinha como separar supostos atacantes de vítimas.

O Ataque

O Massacre de Columbine aconteceu em 20 de abril de 1999 no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos, no Instituto Columbine, onde os estudantes Eric Harris (apelido ReB), de 18 anos, e Dylan Klebold (apelido VoDkA), de 17 anos, atiraram em vários colegas e professores.

Eric Harris e Dylan Klebold eram aparentemente adolescentes típicos de um subúrbio americano de classe média alta. Moravam em casas confortáveis. O pai de Klebold é geofísico, e a mãe, especialista em crianças deficientes.
Faltavam apenas 17 dias para o fim do ano letivo. Com 1.965 alunos, Columbine é uma instituição de ensino altamente qualificada, tanto que muitas famílias se mudam para Littleton, perto de Denver, com o objetivo de matricular os filhos na escola. Em torno de 82% de seus alunos são aceitos em universidades (nos Estados Unidos não há vestibular, o que conta é o desempenho do aluno no segundo grau). Columbine também se orgulhava de não registrar casos de violência. O policial de plantão se limitava a multar alunos que estacionavam os carros nas vagas destinadas a professores. Columbine era famosa por ser conservadora e privilegiar os jogadores dos times de futebol americano, basebol e basquete.

Eric e Dylan faziam parte de um grupo chamado a Máfia da Capa Preta. Harris, principal cabeça por trás do ataque, tinha um website, agora desativado, no qual colecionava suásticas e sinistros vídeos neonazistas e até dava receitas para a fabricação de bombas. Em seu auto-retrato, escreveu: "Mato aqueles de quem não gosto, jogo fora o que não quero e destruo o que odeio". Já Klebold dizia que seu número pessoal era "420", possivelmente uma referência à data de nascimento de Hitler, 20 de Abril.

Eric Harris e Dylan Klebold planejavam levar o seu ataque a outro nível, e pretendiam usar bombas para causar ainda mais danos e morte, mas felizmente os artefatos explosivos fabricados por Harris falharam. Mesmo assim o ataque suicida seguiu, e assim inicio-se um tiroteio que durou 49 minutos.

A fiação das bombas que ele fez era tão ruim que, aparentemente, nunca estiveram nem próximas de funcionar”, disse Dave Cullen, autor de “Columbine”, um novo relato sobre o ataque.


Centenas de alunos foram trancados nas salas, de onde ouviam os tiros sem saber o que estava acontecendo. Muitos ligaram para casa pelos celulares, sussurrando, para pedir por socorro. Harris e Klebold acompanhavam tudo pela TV da biblioteca, vendo a transmissão ao vivo do cerco à escola. No final, depois de meia hora de silêncio, a SWAT invadiu a biblioteca e encontrou os corpos dos dois cercados de outros, alguns irreconhecíveis. O sangue era tanto que a polícia divulgou a estimativa de 25 mortos. Só no dia seguinte, desativadas todas as bombas, pôde-se retirar e contar os corpos.



Passado criminoso da dupla

Os dois tinham antecedentes criminais. Em janeiro do ano anterior, foram presos depois de arrombar um carro e roubar equipamento eletrônico avaliado em US$ 400. Condenados, tiveram de prestar 45 horas de serviço comunitário e fazer um tratamento psicológico destinado a pessoas que cometem infrações menores. No mês anterior ao crime completaram com sucesso o programa de recuperação.


Cronologia do ataque

A cronologia do ataque à Columbine High School foi montada a partir de informações captadas pelas câmeras internas da escola, chamadas de emergência e as reportagens locais:


    11:10 - Harris e Klebold chegam à escola, e deixam seus carros no estacionamento do refeitório.
    11:14 - Deixam mochilas com cerca de nove quilos de explosivos no refeitório.
    11:23 - Eles esperam do lado de fora da saída oeste. Então sacam espingardas de caça e armas semi automáticas e começam a atirar nos alunos. As pessoas começam a correr e um estudante faz a primeira ligação para os serviços de emergência.
    11:24 - Os alunos do refeitório percebem o que está acontecendo. Os funcionários tentam removê-los para locais mais seguros. Um carro de polícia chega e atira nos suspeitos.
    11:27 - A dupla entra na escola, atirando a esmo.
    11:28 - Eles entram na biblioteca, matando 10 e ferindo 12 pessoas em pouco mais de sete minutos. Eles atiram na polícia pela janela em direção ao estacionamento, onde as viaturas se reúnem.
    Durante os próximos 40 minutos, Harris e Klebold percorreram a escola, atirando e deixando explosivos pelo caminho.
    12:06 - Minutos antes da equipe da SWAT entrar no prédio, os suspeitos se mataram dentro da biblioteca.

    Lista de Vitimas

Mortos

1. Rachel Scott, 17 anos, morta com tiros na cabeça, tronco e pernas em um gramado próximo a entrada oeste da escola.
2. Daniel Rohrbough, 15 anos, morto com um tiro no tórax na escadaria oeste.
3. Kyle Velasquez, 16 anos, morto por tiros na cabeça e nas costas.
4. Steven Curnow, 14 anos, morto após receber um tiro no pescoço.
5. Cassie Bernall, 17 anos, morta por um tiro na cabeça.
6. Isaiah Shoels, 18 anos, morto com um tiro no peito .
7. Matthew Kechter, 16 anos, com tiros no peito.
8. Lauren Townsend, 18 anos, morta por diversos tiros na cabeça, tórax e parte inferior do corpo.
9. John Tomlin, 16 anos, morto por diversos tiros no pescoço e cabeça.
10. Kelly Fleming, 16 anos, morta com um tiro nas costas.
11. Daniel Mauser, 15 anos, morto por um tiro no rosto.
12.Corey DePooter, 17 anos, morto com tiros no pescoço e tórax.
13. Dave Sanders, 47 anos, morreu de hemorragia após receber um tiro no pescoço dentro do corredor sul.



Feridos

01. Richard Castaldo, 17 anos, baleado no braço, peito, costas e abdome no gramado perto da entrada oeste.
02. Sean Graves, 15 anos, baleado nas costas, pé e abdômen na escadaria oeste.
03. Lance Kirklin, 16 anos, baleado na perna, pescoço e maxilar. Também na escadaria oeste.
04. Michael Johnson, 15 anos, escapou para o gramado, onde recebeu tiros no rosto, braços e pernas.
05. Mark Taylor, 16 anos, baleado no peito, braços e pernas no gramado.
06. Anne-Marie Hochhalter, 17 anos, baleada no peito, braços, abdômen, costas e perna esquerda próximo a entrada da cantina.
07. Brian Anderson, 16 anos, atingido por um pedaço de vidro na entrada oeste após uma explosão.
08. Patti Nielson, 35 anos, atingida por estilhaços perto da entrada oeste.
09. Stephanie Munson, 16 anos, recebeu um tiro no tornozelo dentro do corredor ao norte.
10. Evan Todd, 15 anos, sofreu ferimentos após a mesa em que estava escondido embaixo quebrar no meio.
11. Patrick Ireland, 17 anos, recebeu tiros no braço, perna, cabeça e pé.

12. Daniel Steepleton, 17 anos, baleado na coxa.
13. Makai Hall, 18 anos, baleado no joelho.
14. Kacey Ruegsegger, 17 anos, recebeu tiros na mão, braço e ombro.
15. Lisa Kreutz, 18 anos, recebeu tiros nos ombros, mão, braço e coxa.
16. Valeen Schnurr, 18 anos, recebeu tiros no tórax, braços e abdômen.
17. Mark Kintgen, 17 anos, recebeu tiros na cabeça e ombro.
18. Nicole Nowlen, 16 anos, baleada no abdômen.
19. Jeanna Park, 18 anos, baleada no joelho, ombro e pé. 
20. Jennifer Doyle, 17 anos, recebeu tiros na mão, perna e ombro.
21. Austin Eubanks, 17 anos, recebeu um tiro na cabeça e no joelho.


    15 anos depois, massacre de Columbine é modelo para ataques

Chacina em escola americana ganhou repercussão mundial por ter sido televisionada e por ser tema de “Tiros em Columbine”, Oscar de melhor documentário em 2003.


Curiosidades

    O caso serviu de inspiração para a personagem Tate (Evan Peters) da primeira temporada. Tate chega inclusive a perguntar a uma garota se ela acreditava em Deus antes de atirar, a mesma pergunta que um dos garotos de Columbine fez a uma de suas vítimas.